Ayahuasca

Ayahuasca

A Ayahuasca também conhecida como Uni, Nixi Pae, Yagé, Caapi, Kamarampi, Shuri por povos nativos da bacia Amazônica, é um chá preparado com dois vegetais: um cipó (Banisteriopsis caapi), uma folha (Psýchotria viridis) e algumas vezes com mais uma outra espécie de planta medicinal.

Essa é uma bebida sagrada para os povos originários há incontáveis gerações, com a capacidade de proporcionar contato com a dimensão espiritual através de estados expandidos de consciência. Evidências arqueológicas indicam que seu uso remonta a pelo menos 5 mil anos. 

O chá tem sido usado pelos indígenas espirituais com o objetivo de diagnosticar e enxergar o tratamento de doenças, rituais coletivos, comunicação com as dimensões espirituais, comunhão com o reino vegetal e animal, práticas de magia, benzimento e guerra. É um pilar da cultura de pelo menos 80 povos espalhados pelo Brasil, Bolívia, Peru, Equador e Colombia.

O principal uso pelos curandeiros e curandeiras indígenas da Ayahuasca é entrar em contato com outras dimensões espirituais para achar a solução para os males da mente do corpo e espírito. Segundo eles, o cipó contém uma inteligência que é mestra do mundo vegetal. Dentro da cerimônia, o pajé pode enxergar qual tratamento,  plantas, como prepará-las e aplicá-las em seu paciente. Assim como, se a pessoa recebeu alguma energia negativa que possa estar gerando desequilíbrios. 

Durante a cerimônia, o pajé invoca os espiritos curadores e protetores através de cantos sagrados recebidos em estados expandidos ou pelo seu mestre. A prática ayahuasqueira anda junto com rigorosas disciplinas de vida, levando o individuo para uma vida restrita e focada na evolução interna e realização das tarefas terrenas com plenitude e presença.

A Ayahuasca é reconhecida como uma substância visionária e enteógena, ou seja, aquela que promove conexão com o Divino e amplifica nossos sentidos, essa planta de poder possibilita que enxerguemos aspectos ainda ocultos à análise racional, nos fazendo enxergar nossa personalidade integralmente, incluindo os bloqueios inconscientes, padrões tóxicos, sentimentos reprimidos, traumas e até mesmo bloqueios que vem desde o nascimento e às vezes desconhecemos.

O uso de vegetais para fins de cura já existem há milhares de anos e é a origem da medicina moderna, que se desenvolveu nos últimos séculos. Ao contrário dos sistemas modernos ocidentais que se destacaram em identificar as causas físicas das doenças, a prática do curandeirismo nativo nos traz uma opção para chegarmos às raizes emocionais, energéticas e espirituais das mazelas humanas, trazendo à tona aspectos do nosso inconsciente.

Quando damos devida atenção para nosso bem estar psíquico, emocional e espiritual, atingimos as raízes da nossa saúde e plenitude, ao invés de mitigar os sintomas. Quando a transformação vem de dentro para fora, despertamos nossa capacidade de auto-cuidado e amor próprio. A Ayahuasca desperta nossa intuição, quando fazemos as perguntas certas, as respostas naturalmente brotam da sabedoria interior.



Em uma cerimônia com plantas visionárias, somos também convidados a reviver eventos marcantes de toda nossa caminhada terrena. Frequentemente, participantes relatam experiências de resgate de conteúdos ocultos vindos da de sua infância. Todas as situações a que fomos expostos moldaram nossa visão perante a vida e a forma como nos relacionamos com ela. 

Muitas vezes é necessária resgatar e liberar emoções reprimidas do passado ou crenças limitantes com as quais fomos educados para florescer e atingir nosso mais alto potencial através da integração da nossa luz e sombra.

A ayahuasca tem propriedades psicoativas devido à presença de uma substância denominada dimetiltriptamina (DMT) nas folhas da Chacrona, cujas moléculas são similares às moléculas da serotonina e também se encontram presentes no organismo humano. O chá atua como inibidor da monoamina oxidase (MAO) devido à ação de beta-carbolinas (Harmina, Harmalina e Tetrahidrohamina), alcalóides presentes no cipó Caapi. Se ingerida isoladamente, a DMT é metabolizada pela MAO no estômago sem chegar ao cérebro.

Portanto, os efeitos inibidores da MAO possibilitam a ação psicoativa da DMT, de expansão da consciência e ativação da glândula pineal, agindo nos circuitos neurotransmissores da serotonina, noradrenalina e dopamina. A ayahuasca possui efeitos purgativos, que facilitam a limpeza do trato gastrointestinal, como também é possível que haja outros efeitos, como sensações físicas, leve aumento do fluxo sanguíneo e/ou relaxamento.

Um corpo crescente de pesquisas têm produzido evidências científicas sobre o uso e os benefícios potenciais da ayahuasca para a saúde física e mental. A bebida apresenta um bom grau de tolerabilidade, segurança, baixa toxicidade e não causa dependência. O uso sacramental do chá pode suscitar experiências pessoais intensas, caracterizadas pela introspecção, aumento da empatia, pela vivência de memórias passadas e visões (mirações), assim como por mudanças na esfera senso perceptiva, somática, cognitiva, afetiva e social caracterizadas pela experiência de bem-estar e expansão da consciência.

É Importante Ressaltar:

O uso da Ayahuasca deve ser feito com respeito e responsabilidade, em um ambiente adequado e com acompanhamento de um profissional experiente. É uma prática séria e não deve ser banalizada ou feita de forma recreativa. 

Ter respeito pela cultura e tradição dos povos originários que utilizam a Ayahuasca há milhares de anos como parte de suas práticas espirituais e de cura. A comercialização e a apropriação cultural são questões sensíveis e devem ser abordadas com cuidado e respeito.

Trabalhar com plantas medicinas em cerimônias sagradas requer preparação e compreensão adequada, tanto para sua segurança quanto para ter uma experiência gratificante. 

Na foto: Txaná Ixã Sabino Huni Kuin, Matteus Andrade e Dua Buse Huni Kuin
No Alto Rio Jordão, Acre. 2016